CBH-Manhuaçu promove seminário sobre acidentes e desastres naturais em Simonésia


4 abr/2016

Evento discutiu o rompimento da barragem em Mariana e as medidas preventivas relacionadas aos desastres naturais.

Moradores do município de Simonésia/MG se reuniram, no último dia 31, na Câmara de Vereadores, para o Seminário Sobre Acidentes e Desastres Naturais. O evento foi promovido pela Comissão de Obras, Agricultura, Direitos Humanos, Direitos do Consumidor e Meio Ambiente da Câmara Municipal de Simonésia, em parceria com o Comitê da Bacia Hidrográfica Águas do Rio Manhuaçu (CBH-Manhuaçu).  O objetivo foi debater políticas públicas voltadas para os acidentes naturais com alternativas que contribuam para o desenvolvimento de um meio ambiente mais equilibrado. Também participaram do evento alunos das redes estadual e municipal, membros do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, líderes religiosos e vereadores do município.

Senisi Rocha, atual presidente do CBH-Manhuaçu abriu as atividades destacando o papel dos comitês de bacia hidrográfica para garantir a qualidade dos recursos hídricos. “Nós temos a função de devolver o planeta com a mesma qualidade que pegamos, ou seja, precisamos fechar essa conta, pois estamos em débito com o ambiente. Para isso, devemos usar os recursos naturais de forma mais consciente”, comentou.  O presidente também ressaltou que na região de Simonésia está se prevendo incidência da mineração, sendo que a atividade precisa ser feita de forma responsável.

Qualidade e quantidade de água

O primeiro tema debatido no Seminário foi o monitoramento da qualidade das águas, que em Minas Gerais é feito pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (IGAM). Atualmente, existem mais de 600 pontos de monitoramento de amostragem que atendem a todas as unidades de gestão, ou sub-bacias. “Nosso monitoramento serve como uma resposta à comunidade, para que todos conheçam a qualidade da água que está sendo consumida”, comentou Sérgio Pimenta Costa, representante do IGAM.  Ele explicou ainda que são analisados os níveis de turbidez, sólidos totais dissolvidos (STD), condutividade elétrica (CE) e a cor da água bruta, sendo que nos rios Paraíba, Velhas e Doce, o monitoramento é realizado mensalmente.

 Prevenção de desastres

Na sequncia das atividades, o tenente do Corpo de Bombeiros Militar, instalado em Manhuaçu, Flávio Augusto Pires da Mota, ministrou uma palestra sobre as medidas preventivas relacionadas à segurança das pessoas e seus bens diante de desastres naturais. Mota explicou que os Bombeiros trabalham com mapeamento e gerenciamento de área de risco, identificando cenários propícios a deslizamentos de terra e áreas de vulnerabilidade.  “Mapeamos nesse trabalho a política habitacional para baixa renda historicamente deficiente; a ineficácia dos sistemas de controle do uso da ocupação; a inexistência de legislação adequada para as áreas suscetíveis e o apoio técnico para a população, tendo em vista que muitos moradores da região constroem suas casas em locais de risco”, explicou.

Para o Corpo de Bombeiros, a solução para inibir e sanar esses problemas está relacionada às ações sobre os processos, como, por exemplo, o controle do solo, que evita o surgimento de áreas de riscos. “É importante mapear para mitigar, visando a redução dos impactos, a ameaça e a vulnerabilidade”, concluiu o tenente.

 Troca de experiências

“O Doce não morreu”. Com essa frase, o atual presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Santo Antônio, Felipe Benício Pedro, abriu os debates sobre o rompimento da barragem de rejeitos de minério de Fundão, pertencente à empresa Samarco, ocorrido em novembro do ano passado. “O acidente destruiu o Distrito de Bento Rodrigues, tirou a identidade do município de Barra Longa e afetou, direta ou indiretamente, mais de 800 quilômetros ao longo da bacia”, lembrou Felipe, que trabalhou durante 25 anos diretamente com a mineração.

“O Rio Doce já estava debilitado e enfrentávamos uma grave crise hídrica. Nesse contexto, enquanto esperávamos a chuva, uma onda de rejeitos atingiu o nosso manancial.  Essa lama afetou todos os municípios e toda a população da bacia”, ressaltou Felipe. Ele ainda declarou que, chegando ao rio, os rejeitos de minério destruíram inúmeras nascentes e mataram diversas espécies de peixes.

Felipe e Senisi apresentaram as experiências da Missão Mariana, expedição realizada em dezembro do ano passado, pelos comitês da Bacia Hidrográfica do Rio Doce às áreas afetadas pelo rompimento barragem. Emocionados, mostraram fotos e os relatos dos moradores que perderam sua identidade devido à onda de lama.

 Recuperação de nascentes

Preocupados com a recuperação das nascentes e com o aumento da quantidade e melhoria da qualidade da água nos rios afluentes ao Doce, o CBH-Manhuaçu, em parceria com o Instituto Terra, cercou mais de 700 nascentes na região e tem recursos para cercar mais 500, nos próximos meses. Os materiais para o cercamento e as mudas que são plantadas ao redor das nascentes são doados pelo Instituto, por meio do programa “Olhos D’água”. “O projeto é ambicioso. O objetivo é cercar 375 mil nascentes; implantar fossas sépticas biodigestoras nas propriedades rurais da bacia; promover o Cadastramento Rural (CAR); e, a aderir ao projeto de recomposição áreas degradadas e alteradas (PRADA)“, explicou Edmílson Teixeira Junior, representante do Instituto.

Para colocar o projeto em prática é preciso interesse do produtor rural, já que o cercamento da nascente levará ao fechamento de uma área de quase 50m² na propriedade. “Nós ajudamos o produtor entregando um kit com tudo que é necessário para realizar o cercamento. Também são disponibilizadas as mudas, mas a mão de obra é dele. Além disso, é oferecida assistência técnica e o monitoramento da quantidade e qualidade de água na área cercada”, explicou Edmílson.

Produtores da Bacia Hidrográfica do Rio Manhuaçu interessados em receber o cercamento devem encaminhar os dados pessoas e o nome da comunidade onde está inserida a nascente para o e-mail: manhuacucbh@gmail.com.

Para finalizar os trabalhos, o vereador e organizador do evento, Moisés Raposo, agradeceu ao empenho da comunidade e declarou: “nosso desafio é grande, mas vamos conseguir resultados em médio curto e longo prazo e, para isso, é necessário trabalhar arduamente e trazer pensamentos positivos em favor de Simonésia”.