Entrevista: Café fino alinhado à preservação ambiental


5 dez/2023

Muitas famílias da Bacia do Rio Doce possuem como principal fonte de renda o cultivo do café. Em nossa região, a prática da cafeicultura gera emprego, renda e impacta positivamente o volume de exportação do fruto. 

No território do Rio Manhuaçu, o respeito ao meio ambiente, aliado a processos artesanais desenvolvidos por produtores, principalmente sem a utilização de agrotóxicos, tem resultado em produções de cafés finos com notas acima de 90, como é o caso do Carlos Alberto, agricultor e conselheiro do CBH Manhuaçu. 

Recentemente, o Casa da Montanha, produzido pelo conselheiro, foi premiado com nota 91,5 na categoria Café Descascado, além disso obteve o 5° lugar na categoria Café Natural no 7º Concurso Municipal de Qualidade de Café, em Alto Jequitibá. Alberto também participou da Semana Internacional do Café (SIC), em Belo Horizonte, onde conversou com nossa equipe: 

– Qual a sua relação com o café? 

Em 1980 plantamos na região 15 mil pés de cafés orgânicos. Naquele momento, ninguém queria orgânico, mas, na primeira colheita, nós vendemos tudo como comodities, assim como na segunda e, depois, tudo morreu. Agora, no início da pandemia, decidimos mudar um pouco o foco da fundação [Fundação Monteiro’s Para Preservação da Vida e do Meio Ambiente] e fomos trabalhar com o viés do café orgânico novamente – hoje o Brasil é o maior produtor do mundo. 

A história mudou, o consumidor quer um café bom, gostoso e de qualidade. Ele quer algo que faça bem à saúde. Então, é a nossa oportunidade para desenvolver o projeto. Já estamos no 5º ano, viemos da nota de 86, no 1º, para 91, neste ano. Ganhamos o primeiro lugar no concurso em Alto Jequitibá. 

– Quais os diferenciais da região para produção de café? 

As matas e o clima, ‘terroir!’* Onde se tem temperatura, umidade, vento, floresta, microrganismos e animais, isso tudo influencia para ter um café especial. Se colocar o café plantado em um lugar árido e sem mata não dará aquele café especial. 

– É esse o segredo que faz o café da região do Manhuaçu ser tão bom? 

A combinação de altitude e o cercamento das matas proporcionam um café de qualidade. É o modo de preservar o meio ambiente e o produtor precisa tomar essa consciência. Uma área é boa porque tem a mata… e, em nossa região, o remanescente de mata atlântica é expressivo, o que é determinante para produzir o café especial. 

– Se para produção de café com notas superiores é indispensável a preservação ambiental, nesse contexto, qual a importância das ações desenvolvidas pelos Comitês de Bacia? 

Esses programas atingem os produtores e as famílias da região. Em minha propriedade está localizada a nascente do rio jequitibá. já na propriedade ao lado há gado, o produtor não cercou e o gado invadiu. Então, o produtor precisa desse apoio para cercamento. 

– Qual mensagem você deixa? 

A água é vida, você não vai conseguir plantar e sobreviver em um deserto. Se a gente não preservar e cuidar tudo vai acabar. 

*Terroir é a expressão que traduz os fatores naturais e humanos que controlam a qualidade da produção. Solo, clima, aspectos do terreno e práticas de cultivo, ‘a mão do produtor’